Um dos mais significativos obstáculos para a concepção “sustentável” dos modos de vida e produção diz respeito a uma separação entre o homem e a ideia de natureza. Ou seja, pergunto-me se o homem urbano não se encontra numa espécie de apartheid material e conceitual da natureza.
Por outro lado, no plano simbólico, a mecânica da urbanização amputou a intermediação da produção do consumidor urbano. Em outras palavras, é possível que o urbanóide esteja desvencilhado da ideia de “terra” como produtora. Ou seja, compra-se a tudo no supermercado ou no shopping. Como uma consequência inexorável, perdeu-se o vínculo simbólico com a terra e, por extensão, a natureza. Obviamente, qualquer cidadão sabe a origem última de tudo o que consome. Contudo, ao impugnar o meio urbano, tal relação vital entre homem parece ser esquecida sem grandes percalços.
Essa distância, tanto física como simbólico, entre o conceito de homem e natureza tende assim a travar o caminho de um eventual consumo sustentável. Talvez reine um mito inconsciente de infinitude da natureza e de seus recursos. Consome-se como os recursos terrenos fossem infindáveis. A natureza soa como uma entidade distante, eterna e subserviente à humanidade e suas necessidades. Como ainda não se sofre agudamente, por exemplo, de crises hídricas nas grandes cidades, talvez o ato de poupar ou consumir “conscientemente” água seja incomum. Será preciso sofrer racionamentos bruscos para uma reflexão sobre um consumo mais dosado?
Enfim, não se trata aqui de demonizar a urbanização, muito menos de sugerir uma regressão saudosista do "campo", mas sim de refletir sobre o elo entre cada indivíduo e sua concepção de natureza, e as consequências para si mesmo de um consumo desmedido e voraz.
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