terça-feira, novembro 23, 2010

ENTREVISTA com THOMAS LOVEJOY

Por Carolina Munis
Antes de assumir esta posição, Lovejoy foi conselheiro chefe de Biodiversidade do Banco Mundial e especialista líder do Meio-Ambiente para a América Latina e o Caribe, bem como conselheiro sênior do Presidente da Fundação das Nações Unidas. Em 2010, foi eleito Professor Titular do Departamento de Política Ambiental e Ciência Ambiental da Universidade George Mason. Atravessando o espectro político, Lovejoy serviu em conselhos científicos e ambientais sob as administrações de Reagan, Bush e Clinton.

No núcleo dessas posições influentes estão as idéias seminais de Lovejoy, que constituíram e fortaleceram a área da biologia da conservação. Na década de 1980, trouxe a atenção internacional para as florestas tropicais do mundo e, em particular, a Amazônia brasileira, onde trabalha desde 1965. Lovejoy também desenvolveu os agora onipresentes programas "debt-for-nature swaps" e liderou o projeto “Minimum Critical Size of Ecosystems”. Ele também fundou a popular série de longa duração na televisão aberta “Natureza”. Em 2001, Lovejoy foi agraciado com o prestigiado Prêmio Tyler pela Realização Ambiental. Em 2009, ele foi o vencedor da Fundação BBVA Fronteiras do Conhecimento na categoria Ecologia e Biologia da Conservação. No mesmo ano, foi nomeado “Conservation Fellow” pela National Geographic. Lovejoy detém bacharelado e doutorado em Biologia pela Universidade de Yale.

O Instituto Humanitare junto e o Blog Sementee entrevistaram o renomado biólogo, que será palestrante na Conferência do Ano internacional da Biodiversidade, para saber qual a sua avaliação do momento atual pelo qual passa a biodiversidade e quais as suas previsões em relação aos avanços futuros na área.

Quais são as suas expectativas em relação à sua participação na Conferência do Ano Internacional da Biodiversidade este ano?

Trata-se de uma oportunidade muito importante para explicar a uma plateia que inclui o mundo dos negócios qual a importância da biodiversidade e como podemos integrá-la às praticas de negócios. É uma ocasião muito especial, também, pois meu bom amigo Paulo Nogueira Neto será homenageado. Espero que saiam dali [da Conferência] muitas novas ideias, conexões e maneiras de se avançar.

Qual é a importância da biodiversidade para as sociedades do século XXI?

Como um amigo me lembrou, nós mesmos somos seres biológicos, para começar. O que significa que a biologia é, na verdade, extremamente importante para nós, assim como o são os recursos biológicos, a habilidade de se utilizar as diferentes formas de vida e a forma como os sistemas vivos funcionam – muitos dos quais, aliás, poderiam nos beneficiar. Além disso, nosso planeta não funciona como um sistema físico, mas sim como um sistema combinado de caráter ao mesmo tempo físico e biológico. Alcançamos o ponto em que estamos puxando nosso próprio tapete biológico e chegou a hora se colocá-lo de volta.

Qual é sua opinão sobre o Protocolo de Nagoya, assinado na última Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica (COP-10)?

Eu estava muito animado. Obviamente, sempre se espera o melhor resultado possível. O Protocolo não o é, mas representa um passo significativo rumo à cura de nossa relação com o planeta vivo. O que, perto de Copenhagen [onde se realizou, em 2009, a COP-15, ou 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática], é muito avançado.

A Rio-92 foi um marco para o regime internacional do meio-ambiente. Duas décadas depois, em 2012, será realizada a Rio+20. Quais são suas expectativas em relação a essa conferência? Quais são os próximos passos para a biodiversidade em meio ao complexo sistema que é o regime internacional do meio-ambiente?

Eu estava lá [na Rio-92], e até mesmo auxiliei nas discussões que levaram à Convenção da Biodiversidade. Tem-se agora a oportunidade de revisitar a mesma situação vinte anos depois, quando é ainda mais urgente e aparente o quão importante é tudo isso. Eu acredito que a conferência [Rio+20] possa vir a ser um marco. Ao que me parece, uma das questões que serão focadas é como se pode reajustar nossa maneira de utilizar a economia de maneira a inserir o valor da natureza e dos serviços ecossistêmicos na forma como tomamos decisões. Acho que um dos aspectos mais interessantes – e que realmente precisa ser trazido à tona – do fato de ela [a Rio+20] acontecer no Rio de Janeiro é que a restauração, o reflorestamento da atual Floresta da Tijuca, feita sob o governo de D. Pedro II, foi uma das primeiras formas de reconhecimento dos serviços ecossistêmicos nos trópicos – ainda que, na época, não se referissem a ela dessa forma – e certamente representa o desenvolvimento sustentável. É interessante que ela não tenha sido realizada com base em uma análise econômica, mas, curiosamente, a cidade de Nova Iorque fez basicamente o mesmo há quinze anos e os custos vieram a ser 10% do que seriam se a restauração não tivesse sido empreendida. Então, há esse maravilhoso pano de fundo para as discussões: um feito que remonta a 150 anos atrás e que reconheceu a importância da natureza.

A biodiversidade e o aquecimento global estão profundamente relacionados. A migração e o desaparecimento de muitas espécies por causa da mudança climática, por exemplo, é inevitável. O senhor acredita que uma futura fusão entre a Convenção da Diversidade Biológica (CDB) e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) é possível, ou mesmo desejável?

Acredito que seja muito difícil, institucionalmente, tentar fundir os dois, mas isso não significa que não se possa integrar o trabalho que ambos estão fazendo. Eu mesmo fui um dos primeiros a investigar a interação entre a biodiversidade e a mudança climática e eu sei o quão sérias são as implicações da mudança climática para a biodiversidade. No entanto, as boas notícias são que, se decidíssemos fazer isso [fundir as duas convenções], poderíamos arrancar uma porção significativa de carbono da atmosfera e colocá-lo de volta nos ecossistemas através de uma restauração em escala planetária. Não é a única atitude que devemos tomar, mas, dessa maneira, envolveríamos a própria natureza como uma parceira no combate à mudança climática. Acho que isso se tornará cada vez mais óbvio para as pessoas com o passar do tempo, e com esperança, o processo começará logo.


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